domingo, 20 de junho de 2010

O assassinato de Roger Ackroyd - Final

Agora quero falar sobre a penúltima obra que lemos no Clube de Leitura: O Assassinato de Roger Akcroyd.


O mais interessante de toda história a revelação final da relação do assassino com o narrador da história.

Não estamos, aqui, a tratar simplesmente de um narrador onisciente, ou não. Mas sim de um narrador que é, ele próprio, o culpado pelo assassinato do Sr. Roger Ackroyd. Sim! 

O Sr. Sheppard, médico de King´s Abott, é o assassino!

Para fazer esse post li alguns comentários feitos em outros blogs sobre esse livro de Agatha Christie.Em alguns, consta que à época de seu lançamento, a autora havia sido acusada de desonestidade com o público, pois teria sonegado informações essenciais àqueles desejosos de desvendar o mistério. 

Discordo! Revendo as minhas próprias anotações mentais, vejo que em momento algum o narrador falta com a verdade ao fazer o relato da história. Informações falsas não são prestadas ao leitor. Existem, é fato, omissões. Muito sutis para que sejam percebidas. 

Uma curiosidade: o autor Pierre Bayard, professor de literatura, fez uma análise bastante profunda do livro. E, segundo ele - releitura dos fatos, e, pior, após a confissão do réu - o resultado correto seria outro. A obra é "Qui a Tue Roger Ackroyd?". Não achei tradução ao português, mas apenas no original, em francês, e em inglês. Vou comprar para R. como um - dentre muitos - presentes que lhe dou.


Voltando ao livro, a verdade é que se o desenvolvimento da história é, de certo modo, cansativo, os capítulos finais do livro são deliciosos! 

 
Delicio-me com a lembrança de, vendo o livro acabar, ainda não haver nada que pudesse salvar da forca o Sr. Ralph Paton, sobrinho de Roger e único verdadeiro suspeito. Foram momentos angustiantes até ser surpreendido com a revelação final.






O Sr. Sheppard, o médico-assassino, faz companhia a Poirot em praticamente toda a história. Dessa vez, Hastings não participou, pois - segundo contou Poirot - seu amigo estava na Argentina, casado com Cinderela (a vantagem de fazer a leitura em uma suposta "ordem correta" é identificar as ligações entre as obras). São de Poirot os seguintes comentários sobre Hastings: 

"E também eu tinha um amigo - um amigo qeu por muitos anos nunca me abandonou. Algumas vezes era de uma imbecilidade que dava medo, no entanto era muito querido por mim. Imagine que eu sinto falta inclusive de sua estupidez. Sua naveté, sua perspectiva honesta, o prazer de deliciá-lo e surpreendê-lo com meus dons superiores - tudo isso me faz muita falta." 

"É que há momentos em que sou tomado por uma grande saudade de meu amigo Hastings. Este é o amigo de quem lhe falei, o que agora mora na Argentina. Sempre, quando eu tinha um caso grande, ele estava ao meu lado. E ele me ajudou, sim, frequentemente me ajudou. Pois ele tinha um dom especial, aquele de esbarrar sem querer em verdades, sem sequer perceber, bien entendu. Às vezes ele dizia algo especialmente tolo, e acredite que esta observação tola me revelava a verdade! E também era uma prática sua manter um registro escrito dos casos que eram interessantes" 

A menção ao costume de Hastings manter um registro escrito dos casos ao Sr. Sheppard é relevante, pois em certo momento se descobre que o médico nutria semelhante hábito. E isso é absolutamente relevante para o capítulo final da história!

É que, em consideração à Caroline - irmã de Sheppard - e com o intuito velado de proteger Ralph Paton, Poirot oferece uma "saída honrosa" ao Sr. Sheppard.

Após revelar sua convicção a Sheppard, Poirot sugere-lhe que finalize seus registros fiel aos fatos, e que, ao final, dê cabo de sua vida. Compromete-se com Sheppard a não revelar o conteúdo do manuscrito senão à polícia. Assim diz Poirot: 

"... a verdade será levada ao inspetor Raglan amanhã de manhã. Mas, por sua boa irmã, estou lhe dando a oportunidade de outra saída. Pode haver, por exemplo, uma overdose de um sonífero. Você me entende? Mas o capitão Paton precisa ser inocentado - ça va sans dire. Eu sugiro que você termine este seu interessante manuscrito abandonando as reticências anteriores."

E assim se desenrola o último capítulo, na tradução de Renato Rezende:

"Cinco horas da manhã, estou muito cansado, mas finalizei minha tarefa. Meus braços doem de escrever. 

Um estranho final para meu manuscrito. Eu pretendia que fosse publicado algum dia como a história de um fracasso de Poirot! É esquisito como as coisas terminam. 

Todo o tempo eu tinha uma premonição do desastre, desde o minuto em que vi Ralph Paton e a Sra. Ferrars juntos. Eu pensei naquele instante que ela confidenciava com ele; e, como se revelou, eu estava muito enganado, mas a ideia persistia mesmo depois de eu ter ido ao escritório de Ackroyd naquela noite, até que ele me disse a verdade...

(...) 


Meu maior receio todo o tempo foi Caroline. Eu imaginei que ela poderia ter desconfiado. Curiosa a maneira como ela falou naquele dia sobre meu 'traço de fraqueza'. Bem, ela nunca saberá a verdade. Há, como Poirot disse, uma saída. 


Eu posso confiar nele. Ele e o inspetor Raglan darão um jeito entre os dois. Não gostaria que Caroline soubesse. Ela gosta de mim, e, também, ela é orgulhosa... Minha morte será uma tristeza para ela, mas tristeza passa..." 


(...) 


Mas eu gostaria que Hercule Poirot não tivesse nunca se aposentado e vinco para cá cultivar abóboras."


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